(não) precisamos ser fortes

(eu)genia
2 min readDec 3, 2020

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As pessoas insistem no ideal de ser forte como se isso nos tornasse automaticamente seres evoluídos, bem sucedidos, independentes e maduros. Acontece que somos muito mais do que aparentemente mostramos ao mundo (e as aparências enganam). Vi recentemente um meme que diz “fingir que tá tudo bem é um talento” e confesso que ri, porque essa é uma triste verdade. As pessoas mais mesquinhas e imaturas que conheci são as que mais repetem gratidão aos quatro ventos.

Não confunda ser assertivo com ser grosseiro, ser exigente com ser estúpido, ser honesto com ser trouxa, ser intenso com atropelar os outros, ser forte com não demostrar vulnerabilidade.

Por muito tempo acreditei que precisava ser forte e tentei levar o mundo nas costas. De carona levei algumas pessoas, e como consequência disso provavelmente atropelei outras. Acontece que foi ficando insustentável continuar a caminhada com tanto peso, parei pra pegar fôlego diversas vezes e um dia eu simplesmente estacionei. Literalmente perdi o movimento do corpo e não consegui me mexer. Por mais que eu me esforçasse eu não consegui sair do lugar e só conseguia derrubar lágrimas até ser socorrida e levada ao hospital em uma crise de estresse. A crise não se repetiu, mas percebi que não era sustentável continuar negligenciando meus sentimentos e necessidades.

Tenho a sensação de ser engolida pela correria do dia a dia, então parar pra escrever aqui tem sido muito enriquecedor pra refletir sobre minhas relações, meus hábitos e os caminhos que decidi percorrer. O que sou no mundo hoje é uma versão de mim mesma que não reconheceria há alguns anos. Me permiti descascar aos poucos as camadas grossas que afastavam as pessoas e passei a simplesmente ser eu mesma, evidenciando minha essência com todos os meus defeitos e aceitando as minhas cicatrizes. Conheci pessoas incríveis ao longo da vida que se dispuseram genuinamente a ouvir e a compartilhar. Conheci pessoas terríveis que se tornaram referência do que não vou me tornar. No meio disso tudo investi em criar relações verdadeiras e valorizar pequenas conquistas. Percebi que se garantir sozinho é um mito. Também percebi que se decepcionar e fracassar faz parte. Só depois que aprendemos a receber com o coração aberto e aceitar quem somos é que conseguimos nos doar da mesma forma e crescer.

Espero de coração que as pessoas enxerguem que quanto mais fortes elas fingem ser, mais egocêntricas elas se tornam (e mais solitárias também). O que temos para oferecer talvez não seja o bastante e não tem problema. Apenas seja honesto e vulnerável consigo e com os outros, pois o tempo passa rápido demais. Quando mais você se esforça em tentar parecer, mais você se afunda, tipo areia movediça.

Você se esconde atrás do que?

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(eu)genia

carioca, casada com um gaúcho e mora na cracóvia. mãe de viralata com guarda compartilhada com ex. irmã mais velha, vegetariana, apaixonada por nerdice.