meu querido diário — parte 2

(eu)genia
2 min readMar 8, 2021

Café com leite e formiga. Lembro de ficar revoltada no exame de vista aos 9 anos quando fui trocar de colégio como exame obrigatório e descobri que tinha miopia. Minha mãe sempre dizia que formiga faz bem aos olhos então fiquei me perguntando, todas aquelas formigas não foram suficientes?

A gente acredita e questiona. A beleza da inocência de uma criança que não se contenta com qualquer resposta trago em mim até hoje junto com a minha miopia.

Minha professora de português tinha cheiro de baunilha. Expliquei pro meu diário que eu me enganei sobre a reputação da professora de matemática, pois escrevi que não gostava dela e ai depois eu passei a gostar. Meu professor de ciências inventava músicas para facilitar a memorizar as coisas e ele dizia que não era bom tirar cera do ouvido.

No dia vinte de março de 1999 combinei com meu diário que eu só escreveria se tivesse algo interessante pra contar. Termino o texto pedindo que ele não se preocupe se eu ficar um tempo sem aparecer seria normal.

Já prevendo cair no esquecimento no dia nove de abril fiz uma lista com nome de todos os professores por matéria da quinta série. Escrevia sobre boatos e quem gostava de quem, pena que não me lembro além das páginas do diário.

O tema mais recorrente do meu diário eram minhas provas, acho que sempre fui um pouco nerd. Detalhava todas as minhas notas e criticava meu desempenho. Não me considero inteligente, sempre tive dificuldade com algumas disciplinas, mas era determinada, responsável e muito estudiosa. Enquanto alguns fingiam estar doentes para faltar a escola, eu acordava minha mãe pra me levar pra aula.

Era uma vez uma garota que gostava de lamber sabonete johnson rosa. Especificamente essa cor e marca. Nunca mais lambi sabonete, mas guardo o sabor e a consistência na profundidade das lembranças.

Era uma vez uma garota que não deixava a mãe amarrar o seu sapato. Ela mordia a lingua no canto da boca enquanto fazia um esforço mental danado pra conseguir dar o nó. Demorava, mas saia. Não era teimosia, eram os traços da mulher independente se concretizando.

Sempre detestei aniversários e como forma de protesto as festas eu ficava vesga em todas as fotos posadas.

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(eu)genia

carioca, casada com um gaúcho e mora na cracóvia. mãe de viralata com guarda compartilhada com ex. irmã mais velha, vegetariana, apaixonada por nerdice.