Há alguns anos eu achava um absurdo ser amiga de ex. E quando escutava relatos de relacionamentos que acabaram e a amizade continuava eu pensava comigo mesma que no fundo eles estavam tentando manter o clima para voltar um dia. E aí a vida me deu uma rasteira e de brinde ganhei um ex melhor do que poderia imaginar. É claro que quando ele virou meu ex eu não queria ver ele nem pintado de ouro e nem passou pela minha cabeça manter uma amizade. Mas depois que chorei tudo que podia chorar, esgotei por dias a fonte de lágrimas me dei conta que eu não tava sozinha, ele tava ali ainda de alguma forma e tive que aceitar o fato. E de uma forma ele estava ali melhor do que antes e o medo que eu senti no dia em que tudo acabou foi desaparecendo aos poucos. Não sinto mais medo, mas sinto saudade. Saudade das tortas de palmito, do suco verde, do pão feito em casa, dos aniversários. Sinto vontade de chorar nesse momento enquanto escrevo, mas é um choro saudoso com sorriso no rosto, uma saudade inevitável por tantos momentos que não quero esquecer.
Nos conhecemos no dia do aniversário dele durante um almoço de trabalho. Estávamos em um treinamento e ele sentou na minha frente porque éramos os únicos da mesa que não comiam carne. Lembro que pouco antes havia sido aniversário da avó dele, exatamente o dia em que entrei na empresa nova, e depois que começamos a nos relacionar eu brincava que havia sido um presente dela pra ele. Eu gostava de acreditar nisso, e cheguei a sonhar com ela algumas noites sem nem mesmo conhecê-la, me trazia conforto.
Por um tempo convivemos compartilhando a guarda da nossa vira-lata. Ela veio a ficar todos os dias comigo depois que ele mudou de cidade e durante meses não o vi, mas ele continuou sempre ali presente de alguma forma, pedindo fotos da Nina e perguntando como eu estava. E não perguntava da boca pra fora, ele realmente queria saber como eu estava e me tornei vulnerável, às vezes sorrindo, às vezes chorando, dividia minhas angústias e minhas conquistas com meu ex.
Ele não é bom em comprar presentes, mas eu era boa por nós dois. E foi assim que nos reencontramos no shopping mais de um ano depois de terminar e acabamos almoçando nesse dia. Ele tava ali na minha frente exatamente como eu lembrava, exceto pelo cabelo comprido, com uma sacola na mão e a frustração estampada no rosto. Depois de um tempo passeando no shopping ele havia apenas comprado o presente de Natal do seu irmão. Eu me prontifiquei a ajudar, ele sorriu aliviado por não ter que encarar a missão presentes para a família toda e foi embora. Mas antes ele me pediu desculpas. Não sei bem porquê, mas eu aceitei de coração porque apesar de todo o sofrimento que passei eu tenho certeza que ele nunca teve a intenção de me ferir. E fui as compras feliz da vida apesar de encarar o shopping lotado, porque eu sabia que estaria ajudando ele e faria parte daquele Natal de alguma forma.
