cada um colhe o que planta

(eu)genia
3 min readNov 11, 2020

No ano passado um dia de manhã saindo do BRT percebi que um senhor aguardava pra atravessar o sinal sem guarda-chuva. Eu estava me recuperando de uma amigdalite braba e logo pensei que pegar aquela chuva não seria bom pra nenhum dos dois. Tinham muitos ali ao nosso redor, pelo menos uma meia dúzia com um guarda-chuva maior do que o meu, mas ninguém sequer parecia se preocupar. Cheguei perto do senhor ainda com meus fones, pausei a música e me aconcheguei perto pra tentar protegê-lo. Tirei um dos fones discretamente sem dizer nada. Ele perguntou para onde eu estava indo e sorridente disse “vou a lotérica, já me aposentei”. O sinal abriu e fomos andando devagar, com o guarda chuva no meio, numa tentativa quase inútil de proteger os dois acabamos ambos com metade do corpo molhado. Não dá pra atravessar toda a avenida no tempo de um sinal, a travessia é longa e costumo correr, mas com chuva e dando carona continuei andando calmamente. No meio do caminho indaguei “cadê o guarda-chuva?” e ele disse “não gosto dessas coisas não, mas muito obrigada pela carona”. Complementou dizendo “hoje em dia todo mundo anda mal humorado, sequer olha pro lado, que bom que você está de bom humor, coisas boas se atraem”. O sinal abriu novamente, ele agradeceu mais uma vez e me disse pra correr para não me atrasar pro trabalho.

Minha mãe sempre me disse que cada um colhe o que planta.

Emprestei a roupa do próprio corpo para uma colega de trabalho que iria conhecer os sogros no almoço. Dividi meu cachecol dentro do ônibus com uma mulher desconhecida que passava frio ao meu lado. Cedi meu guarda-chuva para uma colega que havia acabado de fazer escova progressiva durante um temporal e estava voltando pra casa de transporte público. Já até levei kit de natal de um funcionário recém admitido pra casa, pois ele havia acabado de mudar de cidade e ainda não tinha freezer. Se está ao meu alcance e não vai me trazer nenhum prejuízo, mas fará a diferença na vida do outro, porque não?

Fazer sem esperar algo em troca. Ter empatia pelos outros. Ser grata e verdadeira. Ser educada e respeitosa sempre. São meus valores.

Sinto que falta pra alguns com uma visão limitada e egocêntrica de mundo uma boa dose de humildade, com uma pitada de maturidade e responsabilidade. Quando se trata de lidar com pessoas sigo me decepcionando com alguns, mas sem perder minha essência. Me fortaleço com os aprendizados da vida, permaneço fiel aos meus valores e crenças, e respiro fundo repetindo pra mim mesma de que não vale investir minha energia para tudo e todos.

Pretende olhar para o lado amanhã? O mundo não gira em torno do seu umbigo. Já parou pra pensar como você pode impactar a vida dos outros? Você pode plantar coisas boas e colher coisas melhores ainda. E o que não te faz bem, corte pela raiz

O universo retribui. Minha mãe estava certa sobre colher o que se planta. Mais tarde descobri que também (es)colhemos o que plantamos.

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(eu)genia

carioca, casada com um gaúcho e mora na cracóvia. mãe de viralata com guarda compartilhada com ex. irmã mais velha, vegetariana, apaixonada por nerdice.